29 setembro 2011

Alfred Hitchcock apresenta: 13 histórias de arrepiar

Antes de qualquer mal entendido deixe-me explicar que “13 Histórias de Arrepiar” não é um livro escrito por Alfred Hitchcock, mas um livro de contos de outros escritores. Outro detalhe: os autores das 13 histórias que compõem a obra são “ultra-desconhecidos”, alguns deles, beirando as raias do anonimato. Ah! E antes que me esqueça, a capa do livro é horrrível: um monte de gangsters em torno de uma mesa, com Hitchcock ao meio segurando um violoncelo ou violino, enquanto um dos bandidos atira num rato que corre sobre a mesa repleta de restos de comida. Etchaa capinha de mau gosto. Péssimos traços!
Você deve estar se perguntando o que me levou a comprar uma coletânea de contos escritos por autores desconhecidos e com uma capa que lembra aqueles livrinhos de rodoviária. É simples: todos os contos do livro foram selecionados pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock..
Após algumas pesquisas por esse mundão virtual descobri que Hitchcock não era perfeccionista apenas com os seus filmes, mas também na escolha de histórias de outros autores que compunham coletâneas em livros que levavam a sua marca, ou seja, o seu nome. Para ele, não importava se o conto tinha sido escrito por alguém conhecido ou então por um simples autor anônimo. O importante é que o enredo teria que ser recheado com muito suspense, intrigas e reviravoltas que deixassem o leitor com aquele “Ohhhhh” de surpresa ao final da leitura.
“13 Histórias de Arrepiar” cumpre bem esse papel. Posso dizer que Hitchcock mostrou toda sua competência na escolha dos contos. A maioria deles são excelentes, verdadeiras obras primas. Vejam que grifei a palavra “maioria” , porque como já sabemos, num livro que reúne vários contos, nem todos agradam, sempre há algumas decepções, e em “13 Histórias de Arrepiar” é diferente. O importante  é que a maioria das narrativas convence o leitor. Para ser sincero, não gostei de apenas dois contos: o que abriu a coletânea, chamado “Ouça-me, por favor!” e o outro que fechou a seleção escolhida por Hitchcock, com o título de “Pode confiar em mim”. Acredito que se de um total de 13 contos, conseguirmos obter um saldo positivo de 11 histórias boas, o resultado pode ser considerado espetacular.
Ao contrário de outra obra de coletâneas de Hitchcock chamada “13 Histórias que até a mim assustaram”; o enredo do livro que comento nesse post não tem nenhum elemento de terror que envolva o sobrenatural. A sua narrativa é baseada em enredos policiais e de suspense. Alguns contos tem o poder de deixar o leitor, literalmente, com a boca aberta no final da história por causa da surpresa reservada. Quando você pensa que o conto está caminhando para um desfecho comum, eis que no último parágrafo, acontece uma mudança ou revelação que altera todo o contexto da narrativa. Só mesmo lendo para entender.
Confira agora o resumo das 13 histórias selecionadas pelo mestre do suspense.
01 - “Ouça-me, por favor!”
É o conto de um crime com implicações parapsicológicas. Uma mulher chamada Freda,  certo dia, acorda ouvindo uma voz misteriosa em sua cabeça que passa a conversar com ela diariamente. Essa voz a induz cometer um assassinato. A voz quer que Freda mate, de qualquer maneira, um gangster que supostamente cometeu uma série de maldades e atrocidades. O malfeitor é pintado como um homem horrível na aparência e também na alma. A surpresa ocorre quando Freda – já preparada para mata-lo – encontra-se cara a cara com o tal gangster. Não gostei da história. Muito cansativa. Só salvou – um pouquinho – o final... e olha lá.
02 – “Uma questão de ética”
Esse conto escrito por James Holding, de fato, consegue prender o leitor pela ambigüidade do personagem principal: um assassino de aluguel que é contratado para eliminar uma pessoa. O sujeito é ao mesmo tempo cruel e bom, frio e emotivo. Na história, o criminoso Manuel Andradas acaba sendo salvo da morte por uma inocente criança. O problema é que ele havia sido contratado, exatamente, para eliminá-la durante uma viagem ao Rio de Janeiro e Salvador. O plano engendrado pelo matador profissional para sair dessa sinuca é típico dos filmes de Hitchcock, cheio de reviravoltas e surpresas. Gostei muito.... No final, você caba ficando fã do sujeito por causa do seu plano ousado para evitar matar a criança.
03 - “A armadilha”
Uma mulher bonita e fútil casada com um milionário que só pensa em seus negócios. O pouco caso do marido faz com que Helen Sinclair acabe tendo um caso com outro homem. Sabe quem? O empregado de confiança de seu marido. E de um relacionamento passageiro acaba surgindo uma grande paixão entre os dois amantes. É então que Helen resolve armar um plano para matar o seu marido, ficar com toda a sua fortuna e é claro, fugir com o seu amante. Assim, ela prepara uma armadilha para o seu marido no elevador de uma casa abandonada. Depois foge para se encontrar com o seu amado. Não preciso escrever que o tiro de Helen acaba saindo pela culatra. Ótimo enredo.
04 - “Um hábito perigoso”
Este conto sobre um espião que embarca num navio com a missão de eliminar uma pessoa que descobriu importantes segredos de sua agencia de espionagem é, ao mesmo tempo, tenso e hilariante. O autor, Robert Edmond Alter conseguiu imprimir nesse thriller de espionagem uma veia cômica fantástica. É engraçado ver o grande e imbatível agente – especialista na arte de matar - passando de caçador à caça. A cena em que alguém tenta lhe envenenar durante um jantar com a tripulação do navio é impagável. Mas quem estaria querendo matar o todo poderoso agente Krueger? Alguém enviado pela sua própria agência, por achar que ele se tornou perigoso demais? A pessoa se encontra no navio e que deve ser eliminada por ele? Algum inimigo do passado que quer vingança? Estas perguntas só serão respondidas no final do conto. E garanto que vale à pena esperar. As últimas linhas da história deixam o leitor com aquela expressão boba no rosto. Culpa da surpresa final.
05 – “O quarto vazio”
As últimas quinze linhas deste conto, referentes ao diálogo dos dois personagens principais, já vale a história inteira. O leitor ficará surpreso com a revelação macabra feita por uma governanta que cuida de uma mulher morta, pensando que ela esteja viva. Isso mesmo!
Donald Honig escreveu uma história com um final estonteante. Sim! Este é o termo certo: ESTONTEANTE, e com todas as letras maiúsculas. Aliás, acredito que foi o final desse conto que acabou seduzindo Hitichock à incluí-lo em sua coletânea.
Um marido que há anos vem sendo pressionado pela mulher ciumenta, num de seus ataques de fúria, acaba matando a pobre coitada estrangulada. Depois do crime, com a cabeça fria resolve dar sumiço no corpo, mas uma vizinha bisbilhoteira começa a desconfiar da situação. Então, o assassino resolve simular que a sua mulher continua viva! Ele contratada uma governanta para ficar em sua casa e diz que a esposa está muito doente no quarto que fica no andar superior da casa e só pode receber as visitas do médico e de mais ninguém. A porta do quarto fica sempre fechada e trancada à chaves. As refeições preparadas pela governanta são levadas pelo marido assassino até o quarto vazio, onde supostamente a sua mulher estaria; e ao chegar lá, ele se senta na cama e se “entope”com a comida da falecida. Depois é só descer com os pratos vazios e dizer que a mulher comeu tudo. Seria o plano perfeito, se a governanta não se apaixonasse pelo “marido assassino” e decidisse eliminar, por conta própria, a sua esposa... que aliás já está morta!! O final é de derrubar o queixo, literalmente!
06 – Os cães de guarda de Molicotl
Outro triller com pitadas cômicas. Dois ladrões decidem roubar algumas joalherias localizadas numa pequena cidade mineira do México. As lojas são guardadas por cães barulhentos que não param de latir. Os espertos ladrões” acreditam que os cães só sabem fazer barulho e não mordem ninguém. – “Eles são uns covardes, se alguém falar a palavra gato, enfiam o rabo no meio das pernas e saem correndo de medo!!”, diz um dos larápios. Além do mais, a dupla chega a conclusão que por latirem o tempo todo, os cães acabariam trabalhando à seu favor, já que os latidos e os uivos proporcionariam uma excelente cobertura para arrombar um cofre. Então, quando “cai a ficha” da dupla de ladrões, já é tarde demais para voltar atrás. Eles estão completamente condenados...
Mas qual foi a surpresa que os cachorros da pequena cidade mineira de Molicotl reservaram para os dois ladrões? Garanto que foi algo terrível, mas ao mesmo tempo muito engraçado.
07 – “O que  aconteceu lá em cima”
Fantástico! Divinamente fantástico! Na minha opinião, o melhor conto do livro. O homicídio simulado por um homem envolvido num processo de divórcio que a esposa lhe move é uma verdadeira obra prima.
A autora do conto, Helen Nielsen cria uma teia de aranha que vai prendendo o leitor a cada página e que aos poucos se vê engendrado numa situação que não é nada do que aparenta ser. Um conto que daria um ótimo filme dirigido pelo mestre do suspense, Alfred Hitchcock.
Vou parar por aqui para não estragar a leitura daqueles que pretendem comprar o livro. Só digo mais uma coisa: a leitura de “O Que Aconteceu lá em Cima” já vale o livro todo.
08 – “Sou melhor do que você
Conto de apenas sete páginas escrito nos mesmos moldes de “O Quarto Vazio”. Coisa do tipo: “as últimas linhas mudam todo o desenvolvimento da trama”. Quando você acaba de ler a história, sente-se como se tivesse levado um soco no estômago e ficado momentaneamente sem ar, pois tudo que tinha certeza que iria acontecer na trama, acaba acontecendo de modo contrário.
O conto de Henry Slesar fala de uma jovem atriz que vai até as últimas conseqüências para “roubar” de uma colega o papel principal em uma peça da Broadway.
09 – “Um assassinato simples e fácil”
Um conto apenas mediano, mas mesmo assim, não irá decepcionar o leitor que é fã das histórias de suspense. O pobretão Norman Landers se apaixona pela cunhada bonita e escultural e resolve matar o próprio irmão. Landers é tão obcecado pela mulher alheia que acredita estar prestando um grande favor ao irmão, já que ele encontra-se moribundo e completamente entrevado por causa de uma doença rara. Assim, o esperto Landers decide abreviar a vida do doente e ainda, por cima, ficar com a sua mulher. O que ele não imaginava era que o “brinde” dessa união seria o seu sobrinho; um garotinho que de bobo nada tem e que acaba descobrindo o segredo do tio. Não preciso nem dizer que a vida de Landers se transformará num verdadeiro inferno, já que será obrigado a cumprir as mais loucas e absurdas exigências do menino para que ele não o entregue para a polícia.
10 - “Bêbado de morrer”
Típica história da moral: “olho por olho, dente por dente”. Um calhorda tem o hábito de sair por aí, completamente embriagado, com o seu carro atropelando e matando pessoas. O problema é que esse homem sempre consegue escapar da prisão porque alega que na hora da tragédia não estava bêbado, mas apenas com a taxa de glicose elevada. – “Não estou bêbado, é a minha diabetes. Estou precisando de insulina. Claro que tomei dois drinques, mas estou completamente sóbrio!”, diz o cara de pau. Vale lembrar que no período em que a história foi escrita, ainda não tínhamos o famoso bafômetro.
E assim, o assassino das estradas vai matando e escapando da Justiça, até o dia em que atropela o filho de uma mulher casada com um professor, considerado “expert” em química. Muito tempo depois do acidente, ela arquitetará um plano macabro, orientada pelo marido, para vingar a morte da criança, sem deixar nenhuma pista. O típico crime perfeito. Moral da história: “o feitiço virou contra o feiticeiro”.
11 – “A última autópsia”
Imagine essa situação: Você é uma pessoa tão importante para a sua comunidade e aparenta ser tão íntegro, que após assassinar uma pessoa, mesmo confessando o seu crime, ninguém, absolutamente ninguém acredita em sua história. Esta é a primícia do conto “A última autópsia”.
Um médico legista muito querido pelos moradores de uma pequena cidade acaba matando uma garota, após ter um rápido relacionamento. Para esconder o crime, ele decide cortar a cabeça e as mãos da vítima e depois enterra-las num pântano juntamente com o resto do corpo. Para a sua infelicidade, a polícia consegue localizar o cadáver juntamente com as partes desmembradas e pede para que o legista faça uma autópsia na esperança de encontrar o criminoso.
Após entregar vários relatórios falsos da autópsia, a consciência do Dr. Doc Crowell começa doer e então ele resolve confessar o crime, em detalhes, para o xerife da cidade. Depois de ouvir toda a história, surpreendentemente, o policial não acredita e pensa que Crowell está querendo aplicar uma “pegadinha”. Mas como para todo crime sempre deve haver um criminoso, o xerife acaba tomando uma decisão surpreendente. Leiam e descubram.
12 – “Uma família unida pelo ideal”
Dois irmãos: um inteligente e o outro, burro como uma porta. Um deles é venerado pelo pai, enquanto o outro, é constantemente menosprezado. O mais inteligente assume os negócios do pai que é um rico banqueiro, enquanto o outro decide sair de casa e seguir o seu próprio caminho. Certo dia, o filho que sempre era deixado de lado decide fazer uma visitinha rápida para o seu pai e prova que de burro não tinha nada.
Um conto que seguramente consegue manter o grau de interesse de leitura. Outra história da coletânea de Alfred Hitchcock que vale a pena.
13 – “Pode confiar em mim”
Com já disse no início desse post, “Pode confiar em mim” juntamente com “Ouça-me por favor” foram os dois contos que me decepcionaram nessa fantástica coletânea.
A narrativa que fecha o livro “13 Histórias de Arrepiar” é sobre um gangster que confia cegamente em seu braço direito, um sujeito acostumado a fazer alguns serviços sujos. O “amigo da onça” mostrará as garras no momento em que recebe a missão de solucionar o complicado caso do seqüestro de um importante funcionário de seu chefe. História comprida e bem fraquinha.
Juro que após ler essa coletânea publicada pela editora Record fiquei fã da série de livros que levam a marca “Alfred Hitchcock”. Prova disso é que já comprei, através da estante virtual, o exemplar “13 histórias que até a mim assustaram”. Estou aguardando a chegada do livro com muita expectativa para começar a lê-lo.

22 setembro 2011

A verdadeira história de D’Artagnan, Athos, Porthos e Aramis; os mosqueteiros que existiram na vida real

Novamente estou aqui para sacramentar a minha ignorância com relação aos fundamentos históricos das obras de Alexandre Dumas. Confesso que após a leitura de “Os Três Mosqueteiros” e “Vinte Anos Depois”, não passava pela minha cabeça que D’Artagnan, Athos, Porthos e Aramis eram personagens reais e não fictícios. Sabia que uma das características peculiares de Dumas era mesclar personagens históricos e fictícios em seus romances, assim como fez com o Cardeal de Richelieu, Luís XIII de França e a Rainha Ana D’Austria, que realmente existiram em sua época. Quanto à D’Artagnan e seus amigos mosqueteiros... bem, nunca iria saber que, um dia, foram de carne e osso, se não tivesse pesquisado alguma coisa.
Os personagens de Dumas em “Os Três Mosqueteiros” e “Vinte Anos Depois” me cativaram tanto que me estimularam a sair por aí à procura de detalhes sobre as suas vidas.
Um dia desses, estava numa cidade próxima a minha fazendo uma reportagem quando, coincidentemente, encontrei um professor dos tempos de universidade. “Seo” Luiz, além de um educador fantástico é um grande pesquisador de História Universal com uma quedinha pela França; e para completar, grande apreciador das obras de Dumas. “Rainha Margot”é a sua preferida. Conversa vai, conversa vem, resolvi matar a minha curiosidade sobre a existência ou não dos quatro conhecidos personagens da trilogia “Os Três Mosqueteiros”, mesmo temendo que o meu ex-professor achasse a minha pergunta por deveras tola e infantil. Hoje, posso dizer: “Abençoada foi a minha falta de vergonha naquele momento”, pois recebi preciosas informações, além de várias dicas de fontes de pesquisa. Pronto! A minha curiosidade estava satisfeita: D’Artagnan, Athos, Porthos e Aramis, de fato existiram.
Aqui vai um adendo na minha ignorância “Dumista”, antes de encontrar-se com o meu ex-professor já sabia que os mosqueteiros existiram um dia e que era uma tropa de elite, altamente treinada, para proteger o Rei Luís XIII. E só. Não tinha conhecimento que eles eram exímios esgrimistas. Para mim, a especialidade da guarda do rei da França era o uso do mosquete (antiga arma de fogo), o que lhes teria originado o nome de “Mosqueteiros”.
Mas segundo o meu ex-professor, esses soldados que surgiram no século XVII, além de mosqueteiros eram habilidosos espadachins e especialistas em táticas de combate daquela época. Para ser aceito neste grupo de elite, os candidatos tinham de jurar fidelidade ao rei e, se for o caso, morrer por ele. Reza a lenda que entre esses soldados estavam os melhores espadachins de toda a França, verdadeiros gênios da arte da esgrima; entre eles o nosso D ‘Artagnan, quero dizer “o verdadeiro”. Mas, vamos à sua história.
D'Artagnan
Charles de Batz-Castelmore, também conhecido por Conde D’Artagnan foi o capitão dos mosqueteiros do Rei Luís XIV. Ele nasceu em 1611 e morreu em 25 de junho de 1673 em batalha, após muitos anos à serviço do Rei da França.
O início da vida de soldado do verdadeiro D’Artagnan não difere muito do personagem no qual foi inspirado. Charles de Batz-Castelmore decidiu ingressar na Companhia dos Mosqueteiros do Rei quando tinha 19 anos de idade.
Antes de sair de sua cidade natal Castelmore, ele tomou uma decisão ousada, deixando evidente que nada e ninguém iria conseguir separá-lo do seu sonho de se tornar um mosqueteiro. Ele decidiu abandonar o sobrenome de seu pai e tomar emprestado o nome da mãe, Françoise de Montesquiou d’Artagnan. Charles de Baltz fez isso porque a Família Montesquiou era mais prestigiada na Corte francesa que a de seu pai. Portanto, ele não pensou duas vezes: “entre  papai e mamãe, para realizar o meu sonho fico com mamãe”, deve ter pensado ele.
E segundo os historiadores, tudo indica que essa decisão do jovem D’Artagnan deu certo, pois ao tomar conhecimento que o rapaz pertencia a uma nobre família, imediatamente foi recrutado na Companhia dos Mosqueteiros do Rei. Charlez de Baltz ou Conde D’Artagnan, como passou a ser conhecido, graças as suas proezas – foi um ótimo esgrimista.
Mesmo com a dissolução dos mosqueteiros em 1646, Luís XIV, que conhecera  D’Artagnan quando o rei ainda era uma criança, passou a utilizar o conde em missões militares importantes, provando assim, a grande confiança que tinha em seu soldado.
O verdadeiro D’Artganan se casou em 1659, aos 48 anos de idade e teve duas filhos em 1660 e 1661. Ele se parou da esposa após seis anos de união.
O mosqueteiro morreu em 1673, quando tinha 62 anos, enquanto lutava ao lado do Rei Luís XIV no conflito entre a França e as Provincias Unidas (Holanda) que ficou conhecido como “Guerra da Holanda”.
Em 1700, ou seja, 27 anos após a morte de Charlez de Baltz  (Conde D’Artagnan), o escritor Gatien de Courtilz de Sandras escreveria o livro “Memórias”, onde descreveu os feitos do herói da Gasconha.
Mais de 140 anos depois, Alexandre Dumas descobriria esse livro na casa de um amigo e o pediria emprestado. O escritor francês se apaixonou tanto pela história do Conde D’Artagnan que nunca mais devolveu o livro para o amigo e o transformou em sua obra de cabeceira. Dumas resolveria, então, escrever “Os Três Mosqueteiros” baseado nestas memórias. Enredo que daria assunto para mais duas obras: “Vinte Anos Depois” e  “O Visconde Bragelonne”.
Quanto a Athos, Porthos e Aramis, apesar dos estudiosos e pesquisadores terem descoberto muito pouco sobre as suas vidas, eles garantem que os três mosqueteiros também existiram.
Com relação a Athos ou se preferirem Armand de Sillègue d'Athos d'Autevielle, ao contrário do romance de Dumas, onde foi considerado o mosqueteiro mais velho; na vida real ele foi quatro anos mais novo do que D’Artagnan, tendo nascido em 1615. Athos teve uma vida breve e sem grande interesse, tendo morrido aos 28 anos. Ao contrário de D’Artagnan, Athos não obteve grandes conquistas e segundo historiadores franceses teve apenas uma passagem discreta no regimento dos mosqueteiros sob o comando do Conde de Tréville. De acordo com atestado de óbito da Igreja de São Sulpício, na França, o mosqueteiro morreu durante um duelo. Uma das teses que confirmou esse fato foi a de que o seu corpo foi encontrado num campo conhecido pelos duelistas daquela época, onde eles resolviam suas diferenças. Este fato prova que Athos não era um espadachim tão bom como o seu personagem do romance de Dumas. Mas Dumas, preferiu mudar tudo em sua criação que foi inspirada no mosqueteiro Armand de Sillègue d'Athos. De um mosqueteiro desinteressante e sem vivacidade, o escritor frances transformnou-o no mais importante dos quatro heróis da trilogia “Os Três Mosqueteiros”.
Na literatura, Athos pode ser considerado o mais inteligente e centrado dos mosqueteiros, além de um esgrimista perfeito e letal. Dumas ainda o transformou no Conde La Fére, um nobre de antepassados gloriosos. O Athos de “Os Três Mosqueteiros” é o mais velho do grupo com 30 anos no início da trilogia e só vem a morrer tempos depois, com mais de 60 anos de idade. Resumindo, Dumas aproveitou quase nada do verdadeiro Athos na elaboração de seu personagem.
Porthos, considerado o mosqueteiro mais forte dos quatro, um verdadeiro maciste capaz de fazer verdadeiros estragos no inimigo, quer esteja usando uma espada ou as mãos, foi inspirado no soldado francês Isaac de Portau. Ele entrou para a guarda francesa em 1640 e segundo os historiadores, Porthos e D’Artagnan prestaram o serviço juntos. Porthos passou a integrar o corpo dos mosqueteiros do rei em 1643, no mesmo ano da morte de Athos, o que prova que os dois não chegaram a servir juntos na guarda de elite do Rei da França.
O pai de Isaac de Portau era secretário do rei, o que fazia dele um personagem importante na França do século XVII. O pai do mosqueteiro ganhava muito dinheiro e por isso era proprietário de vários feudos, conseguindo, assim, tornar-se um nobre. Acredita-se que um dos motivos de Porthos ter sido aceito na famosa Guarda Francesa de M. De Tréville foi o grande prestígio de seu pai. Não há informações se Isaac de Portau foi um bom esgrimista como o seu personagem dos livros.
E finalmente, Aramis. Outro personagem real que na minha “ignorância Dumista” não passava de uma criação da mente imaginativa de Alexandre Dumas.
Henri d’Aramitz, o famoso e conquistador mosqueteiro do rei, era um abade laico de uma família protestante de Béarn, na Gasconha e  que por ser sobrinho, por afinidade, de M. de Tréville, comandante da Companhia dos Mosqueteiros, não encontrou nenhuma dificuldade para ingressar na guarda de elite do Rei da França.
Henri d’Aramitz esteve na Companhia dos Mosqueteiros no mesmo período que Porthos, mas não que D’Artagnan, que nesta época estava acabando de chegar à París.
O pai de Aramitz se chamava Carlos d’Aramitz e no começo do século XVII foi marechal dos alojamentos da Companhia dos Mosqueteiros; outro fator que favoreceu a entrada de seu filho no grupo. Por sua vez, o avô do mosqueteiro, Pierre d’Aramitz desempenhou um importante papel nas guerras religiosas da França.
O Aramis “original” se casou e teve dois filhos e duas filhas. Não há nenhuma informação sobre as datas de seu nascimento e morte.
Quanto ao personagem criado por Dumas, a única semelhança com o Aramis verdadeiro é a sua vocação eclesiástica. No romance “Os Três Mosqueteiros”, Aramis é um jovem elegante, delicado e cavalheiro e que apesar de não ter nenhuma vocação para mosqueteiro, é um excelente espadachim. Aliás, tão bom quanto Athos, que teoricamente, era considerado o melhor espadachim entre os quatro amigos.
Tai! A partir de agora quando vocês lerem ou relerem a trilogia de “Os Três Mosqueteiros”, saibam que Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan, de fato, existiram.

17 setembro 2011

Vinte anos depois

Coleção completa (11 livros) da Série D'Artagnan
Quando descobri que “Vinte Anos Depois” e não “O Homem da Máscara de Ferro” seria a continuação do romance “Os Três Mosqueteiros”, dei início a minha caçada pela obra. Naquela época, os sebos virtuais ainda eram um sonho distante e se quisesse comprar um livro antigo tinha de ir pessoalmente à loja. Isso demandava viagens – algumas cansativas – já que os melhores sebos estavam localizados em cidades distantes de onde eu morava, mas ao final o esforço era recompensado. Exemplo disse foi a minha aquisição dos três volumes de “20 Anos Depois”. Lembro que ao chegar no sebo, o proprietário não queria me vender, de maneira alguma, os três volumes que faziam parte de uma coleção de 11 livros chamada Série D’Artagnan. Mas depois de ouvir os meus “lamentos” acabou se compadecendo da “pobre alma” e me vendeu os três livros.
Posso dizer de “boca cheia” e de “peito aberto” que valeu toda a viagem (mais de 100 quilômetros), toda choradeira, todo cansaço, todas e mais todos e todas (rs). Não me decepcionei com a leitura em nenhum momento; pelo contrário me surpreendi.
“Vinte Anos Depois” marca o início do fim de uma grande amizade que emocionou milhares de leitores. O distanciamento dos quatros mosqueteiros tem uma única culpada: a política. Na história, o ardiloso e astuto cardeal Mazarino é quem dá as cartas na França, já que o rei Luiz XIV, por não ter atingido a maioridade, não pode assumir o trono. Quanto a mãe do garoto, a rainha Ana da Áustria, é totalmente submissa às decisões do cardeal que por sua vez não fica devendo nada ao seu antecessor Richelieu. O “caldeirão político” ferve na França porque contrário à realeza está o partido popular, conhecido por La Fronde, formado por importantes integrantes da nobreza. 
Como D'Artagnan é tenente dos mosqueteiros, acaba sendo obrigado a lutar pelo partido de Mazarino. O manipulador cardeal, manda então, que D’Artagnan vá procurar  os seus três velhos amigos – Athos, Porthos e Aramis - para que eles também passem a defender as causas da realeza nesta disputa política com o La Fronde. A decepção de D’Artagnan é grande porque somente Porthos concorda em segui-lo e ainda, assim, com a promessa de que o amigo conseguirá que Mazarino lhe conceda o título de Barão, além de muitas terras. Quanto a Athos e Aramis são partidários ativos do La Fronde e rejeitam o pedido de D’Artagan.
Cardeal Mazarino

Dessa maneira, a briga das duas facções políticas na França acaba causando uma divisão no grupo de amigos, outrora tão unidos, que fez da frase: “Um por todos e todos por um”, o verdadeiro lema da amizade universal. De um lado Athos e Aramis e de outro, D’Artagnan e Porthos. Os dois primeiros defendendo as causas populares, enquanto D ‘Artagnan e o gigante Porthos tomam partido do lado do rei; melhor dizendo, do lado do cardeal Mazarino.
Athos é quem consegue unir os quatro amigos novamente. Aqui vale um adendo; sempre achei esse personagem o mais inteligente e ponderado dos quatro mosqueteiros, além de ser um líder natural, do tipo que é seguido pela confiança e não pelo cabresto. Prova dessa liderança é que Athos consegue “fazer a cabeça” de D’Artagnan para que se reúnam e tentem salvar a vida do Rei Carlos I, da Inglaterra, inimigo declarado de Mazarino. Na realidade, o maléfico cardeal tem um plano ousado que consiste em matar o Rei Carlos e colocar em seu lugar o general Cromwell. Dessa forma, Mazarino também passaria a dar as cartas na política inglesa.
É o mosqueteiro Athos quem convence D’Artagnan de que Mazarino só respira maldade e que o lema dos quatro amigos, no passado, sempre foi o defender a justiça, liberdade e honestidade. Os argumentos de Athos são tão fortes que D’Artagnan acaba desobedecendo o cardeal e com isso perde o seu posto de tenente dos mosqueteiros. Quanto a Porthos, convencê-lo foi mais fácil do que à uma criança, já que o “gigante”- como era conhecido – sempre teve a tendência de seguir as opiniões de D’Artagnan.
Unidos, novamente, lá vão os quatro mosqueteiros para a Inglaterra na esperança de salvar o Rei Carlos I das garras de Cromwell. Mas ao chegar naquele país, eles acabam se deparando com uma terrível surpresa: Mordaunt, o filho de Milady está vivo e é um dos aliados de Cromwell. Pior do que isso: é ele quem mata o Rei Carlos I, com as próprias mãos, durante a rebelião. Ao tomarem conhecimento de que Mordaunt está vivo e que ainda foi o responsável pelo assassinato do rei da Inglaterra, Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnam iniciam uma verdadeira cruzada em busca do filho de Milady. Essa caçada ao traiçoeiro vilão é um dos pontos altos do livro, quando Dumas opta por deixar de lado as tramóias políticas para centrar-se unicamente na aventura. Devorei página por página; o filho de Milady, à exemplo de sua mãe, deu muito trabalho aos mosqueteiros.
Rainha Ana D'Austria e seu filho Luis XIV
“Vinte Anos Depois” também explora outra sub-tramas, como a de Raoul, filho de Athos; o duque de Beaufort e a do próprio Mordaunt, filho de Milady.
Mas acredito que o grande mérito de “Vinte Anos Depois” é explorar em detalhes a personalidade dos quatro personagens principais. Em “Os Três Mosqueteiros”, Dumas optou por centrar-se na aventura e tramas políticas; já na segunda parte da trilogia, um dos focos principais – além das tramas políticas - foi apresentar aos leitores Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan. Dessa forma, nós ganhamos a oportunidade e o presente de entrarmos na intimidade desses personagens tão famosos, passando a conhecer os seus defeitos, virtudes e fraquezas.
Como já escrevi acima, Dumas deixa evidente que Athos é o líder nato dos mosqueteiros, enquanto Porthos é o mais apolitizado e inculto. Aramis, por sua vez, é o mais ambicioso, tanto é, que na série “O Visconde de Bragelonne”- que encerra a trilogia dos mosqueteiros – a sua ambição chega a um limite por demais perigoso, sendo a responsável pela ruptura total de sua amizade com Athos, considerado o seu melhor amigo. Quanto a D’Artagnan, posso dizer que depois de Athos é o mais honesto dos mosqueteiros. Dumas, transveste ainda o herói que veio da Gasconha de uma fidelidade à toda prova. Se D’Artagnan fosse um soldado dos tempos atuais, ele seria o melhor dos militares no aspecto moral, do tipo servil e incorruptível. Mas, como o leitor poderá conferir em “O Visconde de Bragelonne” será essa servilidade que provocará a ruína do mosqueteiro.
“Vinte Anos Depois” pode ser considerado o início do eclipse na amizade de D’Artagnan e seus três amigos de muitas aventuras. Neste livro, Athos conseguiu evitar uma separação brusca e foi além, resgatando a velha amizade entre o grupo. Pena que em “O Visconde de Bragelonne”, a ruptura entre os quatro amigos foi total. E novamente, tudo por culpa dos ardis políticos que acabaram por aflorar os sentimentos mais negativos de nossos heróis. A ambição desmetida de Aramis; o ódio de Athos; a ganância de Porthos e a servilidade de D’Artagnan que o leva a seguir reis e rainhas mesmo sabendo das atitudes nada dignas da realeza..
E agora, que venha  “O Visconde de Bragelonne”!
Inté!

14 setembro 2011

Os três mosqueteiros


Edição "Imortais da Literatura Universal",
da Nova Cultural
Penso que cada gênero literário tem o seu divisor de águas, ou seja, aquele romance que mudou todos os conceitos pré-concebidos, saindo da mesmice das obras publicadas até então, e por isso, conseguindo conquistar uma legião enorme de fãs. Livros que se transformaram em verdadeiras lendas, passando de mãos em mãos, de geração em geração.
Foi assim com “O Exorcista”, de William Peter Blatty, no gênero terror; “A Guerra dos Mundos”, de H.G. Wells; na categoria de ficção científica e “Os Três Mosqueteiros” no gênero capa e espada.
Alexandre Dumas conseguiu escrever um livro para todas as idades e que apesar do tempo – foi escrito em 1844 – ainda continua sendo lido prazerosamente pelos jovens e adultos deste novo milênio. Este é um dos motivos que faz com que a obra de Dumas seja considerada um divisor de águas no gênero, com o poder de “enfeitiçar e seduzir” leitores há mais de 160 anos. Realmente, não dá para comparar “Os Três Mosqueteiros” com os Best-Sellers contemporâneos lançados há pouco tempo e que já caíram no esquecimento total. Livros que brilharam somente por alguns meses ou poucos anos.
Além do mais, Alexandre Dumas conseguiu uma verdadeira proeza na época: popularizar um romance histórico, transformando-o em capa e espada, mesclando personagens reais e imaginários.
O sucesso de “Os Três Mosqueteiros” foi tanto que deu origem a inúmeras peças de teatro, produções cinematográficas e televisivas.
No decorrer de mais de um século já transformaram a história de Dumas em comédia, drama, pastiche e por aí afora. Costumo dizer aos meus amigos que, por tudo isso,  “Os Três Mosqueteiros” se transformou numa obra globalizada, conhecida nos quatro cantos do mundo.
A história é por deveras conhecida por adultos, crianças, adolescentes e idosos, ou será que você não se recorda daquele jovem gascão, de 18 anos, destemido e aventureiro que um dia resolve deixar o seu velho pai para tentar realizar o sonho de se tornar membro do corpo de elite dos guardas do rei da França, os famosos mosqueteiros. Chegando a Paris, após algumas aventuras e confusões, esse jovem chamado D’Artagnan conhece três mosqueteiros apelidados de "os inseparáveis”: Athos, Porthos e Aramis. Juntos, os quatro enfrentam grandes aventuras a serviço do rei da França, Luís XIII, e principalmente, da rainha, Ana d'Áustria.
Evidentemente você se recorda dessa história e também  já deve ter lido as suas páginas inúmeras vezes. E a cada leitura se emocionou com as aventuras dos quatro amigos.
Lembro que na minha época de estudante primário, a minha professora pediu para que a nossa classe lesse o livro de Dumas para que aprendêssemos o significado da verdadeira amizade. E é a isso que o livro também nos reporta: o valor da amizade. Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan estão sempre prontos a doar a vida um pelo outro. Essa amizade que teve o dom de emocionar muitos leitores é resumida numa frase que se tornou famosa em todo o mundo: “Um por todos e todos por um”, o lema dos mosqueteiros. Pena que essa amizade acabou ficando abalada, bem próxima da ruptura, por causa da política e dos políticos. Pois é amigos, na época dos mosqueteiros, a política já era considerada um grande mal. Mas isso é assunto para os livros “O Visconde de Bragelonne”que fecha a trilogia dos mosqueteiros e que um dia, quem sabe, estarei postando um comentário nesse blog. Digo quem sabe, porque não sei se conseguirei localizar todos os 10 livros que formam a saga.
Portanto, “Os Três Mosqueteiros” é uma miscelânea de história, aventura, romance e lição de vida, onde ensina aos jovens a importância da verdadeira amizade.
No final desse post gostaria de dar uma dica para aqueles que pretendem adquirir a obra de Alexandre Dumas para compor a sua estante de livros. Procure pela edição da Nova Cultural que em 1996, através do Círculo do Livro, lançou a coleção “Imortais da Literatura Universal”. Trata-se de uma edição antológica onde o prefácio do livro trás um resumo completo sobre a vida do escritor Alexandre Dumas. Não um resumo enfadonho; mas revelador. Vários segredos do grande mestre da escrita francês são  desnudados, como aquele que Dumas não conhecia coisa alguma de História, sendo um verdadeiro leigo no assunto, e por isso tinha o hábito de consultar a Biblioteca Universal que, na época, era o maior dicionário histórico de personalidades, do qual o escritor tirava muitas informações para escrever os seus livros. Pode um negócio desses??!! Logo o Dumas?! Outro segredo diz respeito a origem de seu filho, também chamado Alexandre Dumas, e também escritor. Prefiro não revelá-lo para não estragar a surpresa daqueles que pretendem adquirir essa edição, facilmente encontrada nos sebos “reais” e “virtuais”.
Então... só resta dizer: boa “releitura”, vale à pena!

11 setembro 2011

Os três mosqueteiros: uma trilogia com 12 livros e mais de 3 mil páginas

Livro "Os Três Mosqueteiros"
Começo esse post pedindo desculpas pela minha ignorância aos leitores “Dumistas” que conhecem à fundo toda a obra do grande escritor francês, Alexandre Dumas. Confesso à vocês, que até a pouco tempo, jamais passou pela minha cabeça - leiga no assunto - que o livro "Os Três Mosqueteiros” fazia parte de uma trilogia. E muito menos que essa trilogia fosse formada por 12 livros!! Cara, uma trilogia composta por 12 volumes e não três??!! Que piração é essa? Ok, vou deixar para explicar a história dessa estranha trilogia mais para frente.
Tomei conhecimento que a história dos três inseparáveis mosqueteiros tinha uma sequência após assistir ao filme “O Homem da Máscara de Ferro” com o Leonardo di Caprio, uma produção de 1998 que obteve um sucesso relativo nos cinemas naquela época. Assim que terminou o filme, fiquei ansioso para ler o livro de Alexandre Dumas, entendendo que “O Homem da Máscara de Ferro”seria a obra conclusiva sobre D'Artagnan e os três mosqueteiros, ardorosos defensores do rei da França. Mero engano dos enganos. Certo dia na casa de um amigo, vi que ele estava lendo uma obra de Dumas com um nome esquisito e com o emblema de uma cruz de flores-de-lis, símbolo dos famosos mosqueteiros. A obra de capa dura e vermelha desbotada – já agastada pelo tempo – se chamava “20 Anos Depois”. Perguntei à ele sobre o livro. Foi quando o João Renato – aficionado dos romances de capa e espada – disse que o livro que estava lendo se tratava da sequencia  dos “Três Mosqueteiros”. “Pêra aí, mas e “O Homem da Máscara de Ferro”, onde entra nisso tudo?”, perguntei. Posso considerar essa pergunta que fiz há quase 13 anos o ponto de partida para a minha compreensão da complicada trilogia de 12 livros sobre as aventuras de Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan.
 Meu amigo, João Renato deu-me uma rápida, mas proveitosa explicação, à qual fui complementando com o passar dos anos através de pesquisas e mais pesquisas. Resultado: troquei a leitura de “O Homem da Máscara de Ferro” por “20 Anos Depois”, além de descartar a compra de “O Homem da Máscara de Ferro”.
Para que você tenha uma noção da cronologia dos livros que narram a saga dos três mosqueteiros vou “amarrar” aquele fio sobre a trilogia de 12 livros que deixei solto no início desse post.
“20 Anos Depois” pode ser considerado o segundo livro da trilogia “Os Três Mosqueteiros” e reúne D’Artagnan, Athos, Porthos e Aramis após duas décadas de separação. Depois dessa obra, temos o romance “O Visconde de Bragelonne”; este sim, fechando a saga dos mosqueteiros. Quanto ao “Homem da Máscara de Ferro”, trata-se apenas de um personagem de “O Visconde de Bragelonne” que surge no final na história. É importante esclarecer que o livro “O Homem da Máscara de Ferro” não se trata de uma obra escrita separadamente por Dumas, mas apenas de uma novelização dos filmes que passaram nos cinemas. Já os filmes sobre o personagem que usa uma máscara de ferro como castigo teve por base os capítulos finais de “O Visconde de Bragelonne”. Meio complicadinho, não é? (rs).
Fechando a explicação sobre a saga de D’Artagnban e os três mosqueteiros, cabe informar que a história de “O Visconde Bragelonne”, que conclui a trilogia, chega a ter, em sua edição original, 10 volumes que totalizam mais de 2.500 páginas. Bem, se somarmos essa quantidade de páginas com os outros dois livros da trilogia -“Os Três Mosqueteiros” e “Vinte Anos Depois” teremos uma trilogia com mais de 3 mil páginas!!
Volume 3 de "O Visconde de Bragelonne"

Com certeza, muitos que estão lendo esse post, se assustaram com o “mar de páginas” que formam o enredo de uma das históricas mais famosas de todos os tempos e que marcou gerações. Mas podem ficar tranqüilos, por que a exemplo de “Os Três Mosqueteiros”; o livro “Vinte Anos Depois” é uma verdadeira odisséia, uma obra tão cativante quanto a sua predecessora. Quanto ao “O Visconde de Bragelonne”, comecei a ler, descompromissadamente, o primeiro volume que peguei emprestado do meu amigo João Renato. Confesso que apesar da leitura cativante de “Os Três Mosqueteiros” e “Vinte Anos Depois” fiquei com algum receio de encarar as mais de 2.500 páginas do “Visconde”; não temendo pela queda na qualidade do enredo criado por Dumas, mas pela possibilidade de começar a ler a história, gostar dela e depois não conseguir encontrar nos sebos todos os dez volumes. Quer dizer, seria como dar um pirulito para uma criança, deixá-la dar uma boa lambida e depois, simplesmente, tirá-lo de sua boca e jogá-lo fora. Por isso fiquei temeroso, mas mesmo assim, não acabei resistindo e há cerca de três semanas ao passar na casa desse meu amigo, vi aquele livrão antigo meio judiado na estante e acabei pedindo que o João me emprestasse. Ele tem apenas os cinco primeiros volumes; quanto aos outros, continua garimpando nos sebos na esperança de encontrá-los.
Alexandre Dumas, pai, o criador da saga
"Os Três Mosqueteiros"

Optei por não fazer do livro “O Visconde de Bragelonne” a minha leitura principal. Digamos que ele seja a minha opção alternativa, já que dedico um tempo maior para outras obras. Porque faço isso? Simples: tenho medo de que o João não encontre os outros cinco volumes que restam para completar a última parte da trilogia, então eu ficaria como aquela criança que perdeu o pirulito.
Mas analisando o que li até agora; o primeiro dos dez volumes de “O Visconde de Bragelonne” é bem melancólico e pelo pouco que conheço da história em seu todo através de minhas pesquisas, a melancolia é predominante nos 10 volumes da obra de Dumas. É por demais curioso vermos Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan já bem envelhecidos, bem mais do que no livro anterior “20 Anos Depois” e com ideologias bem diferentes daquelas quando se conheceram ainda jovens . Athos tem um filho chamado Raul, que será o polo da discórdia entre ele e Aramis. Sei que Athos culpará o ex-amigo Aramis pela morte de seu filho, mas prefiro analisar a obra quando acabar de lê-la em seu todo. Quem sabe daqui há uns dois ou três anos “ela” esteja aqui nesse blog. Isto é, se o João Renato encontrar os outros cinco volumes que ainda faltam para completar a obra.
Vou aguardar!

08 setembro 2011

Será que o “Sol da meia noite” de Stephenie Meyer vai brilhar um dia?

Stephenie Meyer
Todos nós já sofremos aquela dor na alma, no espírito, no coração ou no recôndito mais profundo da nossa essência. Aquela pancada que nos deixa borocoxô durante semanas ou até mesmo meses provocada por uma traição no trabalho, em família, no amor ou então em qualquer outro setor de nossas vidas.
Agora, pare um pouco e pense na “pior das piores” apunhaladas que você levou nas costas de uma pessoa pela qual tinha a maior consideração. Ok, vale tudo: pode ser namorada, esposa, esposo, irmão, amigo do peito, filho, filha, etc e mais etc. E aí? Pensou? Chegou a uma conclusão? Agora, multiplique essa decepção sofrida por 10. Pronto! O resultado obtido é a dor que a escritora Stephenie Meyer vem sofrendo desde 2088.
Para que você entenda o sofrimento da criadora da saga Crepúsculo, coloque-se no lugar dela. Imagine-se sendo um escritor famoso, graças ao seu último trabalho. Então, ao iniciar um novo romance, onde o personagem principal da série que lhe deu fama e fortuna estará revelando todos os seus segredos, você escuta o telefone tocar e ao atender é o seu agente que, sem rodeios, vai logo dizendo que tudo o que você escreveu já está na internet à disposição de quem quiser ver! Enfim, o vazamento do século! Taí, resumidamente, foi isso o que aconteceu com Stephenie Meyer.
Ela estava escrevendo Midnight Sun (Sol da Meia Noite), um dos livros mais aguardados pela grande legião de fãs da saga Crepúsculo; aqueles que devoraram os livros Eclipse, Lua Nova e Amanhecer e agora contavam nos dedos os dias para o lançamento da obra que iria esclarecer muitos mistérios do personagem principal da saga, o vampiro “bonzinho” Edward Cullen.
“Sol da meia noite” é praticamente a mesma história de Crepúsculo, só que narrada pelo Edward ao invés de sua namorada, a humana Bella Swa,. Um dos mistérios que ele acaba esclarecendo ao longo de sua narrativa é o método que utilizava para controlar a sua sede sangue quando estava com Bella. Todos que acompanharam a série estão cansados de saber que Edward – por ser um vampiro – tinha ojeriza aos pratos que nós, simples mortais, amamos. O seu negócio era sangue, e quanto mais vermelhinho e quentinho melhor; mas por ser um vampiro do bem, ele evitava atacar seres humanos, preferindo estraçalhar ursos, leopardos e outros animais. Mas acontece que o sangue desses animais selvagens nem se comparava com a qualidade saborosa do sangue dos humanos. Uma verdadeira tentação. Então imagine, o sofrimento desse rapaz quando estava nos braços de sua namorada de carne e osso. Em Midnight Sun, Edward relata todo esse drama que o levou a se afastar de Bella.
Outro mistério que Stephenie Meyer pretendia esclarecer seria o ataque que Bella sofreu em Portland, quando começou a ser perseguida por uma gangue, cujos rapazes queriam estuprá-la. Edward revela como conseguiu encontrar Bella em Portland antes que ela fosse violentada e como Carlisle dominou a situação, evitando que o pior ocorresse.
Em poucas palavras, esse é o início de “Sol da meia noite”, cujos primeiros 12 capítulos encontram-se escancaradamente na rede mundial de computadores para quem quiser ler ou reler.
Acompanhei algumas entrevistas que a escritora concedeu após o vazamento de seu material e deu para perceber o quanto ela está abatida. E não é pra menos, já que a cópia de seu manuscrito estava em poder de uma pessoa de sua confiança, um amigo ou amiga, quem sabe. O curioso é que Meyer disse acreditar que essa pessoa de confiança não teve intenção maliciosa com a distribuição inicial. Portanto, os motivos do vazamento continuam sendo uma verdadeira incógnita. Mas nada justificada essa verdadeira “roubada” que tirou do sério a escritora da saga.
O descontentamento, raiva e decepção da criadora da saga Crepúsculo fica evidente neste trecho de entrevista que ela concedeu logo após o seu manuscrito de Midnight Sun ter vazado: “Acredito que é importante para toda mundo entender que o que aconteceu foi uma enorme violação dos meus direitos como uma autora, para não falar de mim como um ser humano. Tal como a autora da Saga Crepúsculo, eu controlo os direitos de autor e cabe ao proprietário dos direitos autorais para decidir quando os livros deveriam ser acessíveis ao público, da mesma forma que ocorre com os músicos e cineastas. Só porque alguém compra um livro ou filme ou canção, ou recebe um download da Internet, não significa que eles próprios têm o direito de reproduzir e distribuí-la.”
Sei que o que vou escrever agora pode “matar” todas as esperanças daqueles que ainda acalentam o sonho de um dia ver nas livrarias “Sol da Meia Noite”. Na minha opinião, o projeto desse livro já morreu. A escritora Stephenie Meyer deixou nas entrelinhas de suas entrevistas o quanto esse golpe lhe machucou, “me sinto muito triste com o que aconteceu para continuar escrevendo”...”voltarei a trabalhar no livro quando tiver certeza que todo mundo esqueceu isso”. Eu pergunto: “Será que os seguidores da saga de Edward Cullen e Bella Swan vão esquecer que tudo isso aconteceu um dia? Acredito que será difícil.
Outra prova de que o projeto de Midnight Sun está perto de ser enterrado é que a própria autora disponibilizou os 12 capítulos do manuscrito em seu próprio site, após pedir em vão para que as pessoas não lessem o texto que vazou na rede e que aguardassem o lançamento do livro. Me responda se você atendeu o pedido da escritora? Pois é, a maioria dos internautas também não, já que os downloads do manuscrito de Meyer bateram todos os recordes, e... continuam batendo.
Para a felicidade dos fãs da saga Crepúsculo, torço para que eu esteja errado, mas o rol de decepções sofridas por Stephenie Meyer foi tanto que tenho quase certeza de que acabou minando o seu ânimo de um dia concluir a obra.

03 setembro 2011

Dragão Vermelho

Will Graham é o cara! Acredite, ele deixou o Dr. Hannibal Lecter, considerado o serial killer mais inteligente do planeta e com respostas na ponta da língua para qualquer questionamento, com cara de “bundão”. Desculpe-me pelo palavreado chulo, mas fiquei tão empolgado com a novidade que acabei soltando sem querer. Afinal de contas, não é qualquer sujeito que tem QI suficiente para conseguir essa proeza.
A façanha do agente especial do FBI aconteceu logo no início de “Dragão Vermelho” quando ele resolveu visitar o Dr. Lecter, numa prisão psiquiátrica, para pedir a sua ajuda na localização de um assassino cruel e sanguinário.
Confira parte do diálogo que deixou o famoso canibal completamente sem graça.
Will Graham: - “O  senhor precisa ver a pasta deste caso.”
Dr. Lecter: - “Porque  deveria?”
Will Graham: - “Achei que o senhor poderia estar curioso para descobrir se é mais inteligente do que a pessoa que estou procurando.”
Dr. Lecter: - “Então, por extensão, você pensa que é mais inteligente do que eu, visto ter me apanhado.”
Will Graham: - “Não. Sei que não sou mais inteligente do que o senhor.
Dr. Lecter: - “Então como (pensa) que me pegou Will?”
Will Graham: - “É que o senhor estava em desvantagem.”
Dr. Lecter: - “Qual?”
E é nesse momento que Graham solta a bomba em Lecter respondendo à ele de queima roupa: - “É que o senhor é louco...
Buuummmmm!! Foi uma explosão na cabeça do serial killer mais inteligente que a literatura policial já conheceu. Lecter ficou totalmente sem graça e sem condições de rebater a “tiração de sarro” do agente do FBI. Por isso, ele foi obrigado a mudar de assunto rapidamente para não perder a posse de sabichão que tem respostas para todos os questionamentos disparados por bocas alheias.
Poderia afirmar que somente por essa parte, Will Graham teria todo o direito de ser o dono do livro “Dragão Vermelho”. Mas o serial killer Francis Dolarhyde, o temível “Fada dos Dentes”, também demonstra ao longo da história ser um adversário tão inteligente e esperto quanto o agente especial do Federal Bureau of Investigation. Portanto, o livro de Thomas Harris pertence aos dois: Graham e Dolarhyde.
Mas, pêra aí! Deve ter alguma coisa errada. Como uma obra que tem Hannibal Lecter em seu contexto pode dar à ele apenas o status de personagem secundário?! Se você fez essa exclamação, vou escrever algo que talvez o deixe ainda mais inconformado (desde que voce não tenha lido o livro, é claro): em “Dragão Vermelho”, o Dr. Lecter não é um personagem secundário, mas apenas um figurante. Isso mesmo! Ele tem ainda menos importância do que Jack Crawford, o chefe de Graham; e de Reba McClane, a namorada cega de Dolarhyde.
Vejam bem, não estou querendo dizer com isso, que o “canibal” seja uma figura meramente decorativa no livro de Harris. Nas quatro vezes em que ele aparece na história (uma no início, em flashback, quando Graham relembra como conseguiu prendê-lo; outra, no momento do tenso encontro entre ele e o agente do FBI; a terceira, quando desconta a “tirada de sarro” que levou de Graham em cima do Dr. Chilton, diretor da prisão pisquiatrica onde se encontra; e a última quando dá um golpe de mestre, deixando evidente o seu QI elevado, ao conseguir, de dentro da prisão, o endereço da família de Graham), o Dr. Lecter dá conta do recado, mas convenhamos é muito pouco para um personagem que dominou por inteiro obras como “O Silencio dos Inocentes”, “Hannibal” e “Hannibal – A Origem do Mal”.
A pouca presença de Lecter em “Dragão Vermelho” não prejudica a história de Thomas Harris porque o autor foi muito inteligente ao criar dois personagens de peso: Graham e Dolarhyde. O duelo entre os dois é eletrizante; um verdadeiro jogo de xadrez disputado por duas mentes brilhantes: uma à serviço da justiça e a outra aliada ao crime.
Thomas Harris conta a história de Graham, agente do FBI, que por pouco não foi morto pelo psiquiatra canibal Hannibal Lecter quando tentava capturá-lo. Com Lecter já preso, Graham é obrigado a usar o psicopata como consultor para obter maiores informações sobre Francis Dolarhyde, um perigoso serial killer que tem deixado a cidade em pânico. Mas o que Graham não sabe é que ao mesmo tempo em que Lecter o auxilia em sua investigação também repassa ao próprio Dolarhyde informações sobre a família do agente do FBI.
Dolarhyde ou “Fada dos Dentes” ataca as suas vítimas durante a lua cheia e tem o hábito de mordê-las com uma dentadura horrorosa, herança de sua avó, deixando as vítimas cheias de mutilações.
“Fada dos Dentes” nasceu com lábios leporinos, além de uma fissura no palato. Por ter sido abandonado pela mãe, logo quando nasceu, a criança foi obrigada a conviver com esse problema durante um longo período e quando encontrou alguém para fazer a cirurgia, a mesma não foi bem sucedida. Por isso, a criança teve uma infância traumatizada, vindo a criar na fase adulto uma segunda personalidade. Ele passou a acreditar que estava possuído pelo “Dragão Vermelho”, um monstro que faz parte de um quadro chamado “O Grande Dragão Vermelho e a Mulher Vestida de Sol” do pintor e visionário inglês William Blake. A ilustração mostra um enorme  homem-dragão envolvendo na cauda uma mulher com expressão apavorada.
Um aspecto importante é que a obra de Thomas Harris não pode ser considerada um simples romance policial, já que aborda em suas entrelinhas dois graves problemas. O primeiro deles, o perigo da interferência da mídia sensacionalista nos casos policiais, e o outro, a formação de perigosos psicopatas por culpa do chamado abandono social.
Apenas para posicionar aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de ler todos os quatro livros sobre o personagem Hannibal Lecter, é importante lembrar que a história de “Dragão Vermelho” ocorre antes dos acontecimentos de “O Silencio dos Inocentes”.
Um livro fantástico, mesmo sem a presença constante do Dr. Lecter. Vale a pena ser lido.

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