Dragão Vermelho

03 setembro 2011
Will Graham é o cara! Acredite, ele deixou o Dr. Hannibal Lecter, considerado o serial killer mais inteligente do planeta e com respostas na ponta da língua para qualquer questionamento, com cara de “bundão”. Desculpe-me pelo palavreado chulo, mas fiquei tão empolgado com a novidade que acabei soltando sem querer. Afinal de contas, não é qualquer sujeito que tem QI suficiente para conseguir essa proeza.
A façanha do agente especial do FBI aconteceu logo no início de “Dragão Vermelho” quando ele resolveu visitar o Dr. Lecter, numa prisão psiquiátrica, para pedir a sua ajuda na localização de um assassino cruel e sanguinário.
Confira parte do diálogo que deixou o famoso canibal completamente sem graça.
Will Graham: - “O  senhor precisa ver a pasta deste caso.”
Dr. Lecter: - “Porque  deveria?”
Will Graham: - “Achei que o senhor poderia estar curioso para descobrir se é mais inteligente do que a pessoa que estou procurando.”
Dr. Lecter: - “Então, por extensão, você pensa que é mais inteligente do que eu, visto ter me apanhado.”
Will Graham: - “Não. Sei que não sou mais inteligente do que o senhor.
Dr. Lecter: - “Então como (pensa) que me pegou Will?”
Will Graham: - “É que o senhor estava em desvantagem.”
Dr. Lecter: - “Qual?”
E é nesse momento que Graham solta a bomba em Lecter respondendo à ele de queima roupa: - “É que o senhor é louco...
Buuummmmm!! Foi uma explosão na cabeça do serial killer mais inteligente que a literatura policial já conheceu. Lecter ficou totalmente sem graça e sem condições de rebater a “tiração de sarro” do agente do FBI. Por isso, ele foi obrigado a mudar de assunto rapidamente para não perder a posse de sabichão que tem respostas para todos os questionamentos disparados por bocas alheias.
Poderia afirmar que somente por essa parte, Will Graham teria todo o direito de ser o dono do livro “Dragão Vermelho”. Mas o serial killer Francis Dolarhyde, o temível “Fada dos Dentes”, também demonstra ao longo da história ser um adversário tão inteligente e esperto quanto o agente especial do Federal Bureau of Investigation. Portanto, o livro de Thomas Harris pertence aos dois: Graham e Dolarhyde.
Mas, pêra aí! Deve ter alguma coisa errada. Como uma obra que tem Hannibal Lecter em seu contexto pode dar à ele apenas o status de personagem secundário?! Se você fez essa exclamação, vou escrever algo que talvez o deixe ainda mais inconformado (desde que voce não tenha lido o livro, é claro): em “Dragão Vermelho”, o Dr. Lecter não é um personagem secundário, mas apenas um figurante. Isso mesmo! Ele tem ainda menos importância do que Jack Crawford, o chefe de Graham; e de Reba McClane, a namorada cega de Dolarhyde.
Vejam bem, não estou querendo dizer com isso, que o “canibal” seja uma figura meramente decorativa no livro de Harris. Nas quatro vezes em que ele aparece na história (uma no início, em flashback, quando Graham relembra como conseguiu prendê-lo; outra, no momento do tenso encontro entre ele e o agente do FBI; a terceira, quando desconta a “tirada de sarro” que levou de Graham em cima do Dr. Chilton, diretor da prisão pisquiatrica onde se encontra; e a última quando dá um golpe de mestre, deixando evidente o seu QI elevado, ao conseguir, de dentro da prisão, o endereço da família de Graham), o Dr. Lecter dá conta do recado, mas convenhamos é muito pouco para um personagem que dominou por inteiro obras como “O Silencio dos Inocentes”, “Hannibal” e “Hannibal – A Origem do Mal”.
A pouca presença de Lecter em “Dragão Vermelho” não prejudica a história de Thomas Harris porque o autor foi muito inteligente ao criar dois personagens de peso: Graham e Dolarhyde. O duelo entre os dois é eletrizante; um verdadeiro jogo de xadrez disputado por duas mentes brilhantes: uma à serviço da justiça e a outra aliada ao crime.
Thomas Harris conta a história de Graham, agente do FBI, que por pouco não foi morto pelo psiquiatra canibal Hannibal Lecter quando tentava capturá-lo. Com Lecter já preso, Graham é obrigado a usar o psicopata como consultor para obter maiores informações sobre Francis Dolarhyde, um perigoso serial killer que tem deixado a cidade em pânico. Mas o que Graham não sabe é que ao mesmo tempo em que Lecter o auxilia em sua investigação também repassa ao próprio Dolarhyde informações sobre a família do agente do FBI.
Dolarhyde ou “Fada dos Dentes” ataca as suas vítimas durante a lua cheia e tem o hábito de mordê-las com uma dentadura horrorosa, herança de sua avó, deixando as vítimas cheias de mutilações.
“Fada dos Dentes” nasceu com lábios leporinos, além de uma fissura no palato. Por ter sido abandonado pela mãe, logo quando nasceu, a criança foi obrigada a conviver com esse problema durante um longo período e quando encontrou alguém para fazer a cirurgia, a mesma não foi bem sucedida. Por isso, a criança teve uma infância traumatizada, vindo a criar na fase adulto uma segunda personalidade. Ele passou a acreditar que estava possuído pelo “Dragão Vermelho”, um monstro que faz parte de um quadro chamado “O Grande Dragão Vermelho e a Mulher Vestida de Sol” do pintor e visionário inglês William Blake. A ilustração mostra um enorme  homem-dragão envolvendo na cauda uma mulher com expressão apavorada.
Um aspecto importante é que a obra de Thomas Harris não pode ser considerada um simples romance policial, já que aborda em suas entrelinhas dois graves problemas. O primeiro deles, o perigo da interferência da mídia sensacionalista nos casos policiais, e o outro, a formação de perigosos psicopatas por culpa do chamado abandono social.
Apenas para posicionar aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de ler todos os quatro livros sobre o personagem Hannibal Lecter, é importante lembrar que a história de “Dragão Vermelho” ocorre antes dos acontecimentos de “O Silencio dos Inocentes”.
Um livro fantástico, mesmo sem a presença constante do Dr. Lecter. Vale a pena ser lido.

8 comentários

  1. Assisti apenas o filme, achei animal, como vcs disse, mesmo sem a constante presença do Lecter.
    A cena que mais me impressiona é aquela onde uma pessoa é mantida viva em uma cama durante hora, dias ou semanas (acho que é de Dragão Vermelho, e não de outro filme ligado ao Lecter).

    Parabéns pelo texto, novamente fica meu elogio pela qualidade da sua escrita.

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  2. Também vi apenas o filme,que achei muito bom.

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  3. Cassio, eu assisti os filmes do Hannibal centenas de vezes e nao me recordo em ter visto essa cena da cama.

    voce esta se confundindo com o filme "seven-os 7 pecados capitais" , em que o alvo da preguiça é amarrada a cama e deixada la por meses.

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  4. Gostei muito do que escreveu. Comprei o livro Dragão Vermelho na Bienal do Livro este ano. Vou começar a ler agora mesmo. Sempre assisti pequenos pedaços dos filmes e sempre achei eletrizantes. O livro, pelo visto, deve ser muito melhor. Até o fim do ano quero ver todos os filmes, e quem sabe, eu leia todos os livros também.

    Visite meu blog: http://barbarabayfer.blogspot.com.br/

    tenho algumas resenhas também.

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    1. Obrigado Bárbara,
      Qto ao "Dragão Vermelho" tenho certeza de que irá gostar... Terá a oportunidade de conhecer um pouco mais "à fundo" o psicopata Hannibal Lecter, inclusive como ele foi capturado.
      Abcs e boa leitura!

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  5. Sim, tem muito tempo essa publicação.
    Mas gostaria de saber qual ordem da leitura que voce recomenda?

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    1. Olá Lueidsom, anote aí:

      01- "Hannibal: A Origem do Mal"
      02- "Dragão Vermelho"
      03- "O Silencio dos Inocentes"
      04- "Hannibal"

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