21 abril 2024
“As Portas de Pedra” e “O Visconde de Bragelonne”; será que serão publicados um dia? Esta indefinição irrita e desanima os leitores
Falando por mim: se há algo que irrita um leitor é ver
a divulgação do lançamento de uma obra tão aguardada ser propagada aos quatro
ventos e depois... nada do lançamento, nada da obra, nada de notícias, enfim,
nada de nada. A chama, antes tão poderosa, simplesmente se apaga. Então, bate o
desespero nesse leitor e ele acaba mostrando a sua identidade secreta, o
super-herói conhecido como o “Garimpeiro da Net”. A partir daí ele começa,
desesperadamente, a caçar migalhas de informações sobre o tal livro que “deixou
de existir”. Pois é, as supostas obras O
Visconde de Bragelone e As Portas de
Pedra conseguiram fazer com que eu me transformasse no “Garimpeiro da Net”.
Só que até agora não consegui garimpar nenhuma informação a qual possa
classificar como segura. Praticamente, elas “dizem” a mesma coisa.
Com relação ao tão aguardado terceiro livro da saga A Crônica do Matador do Rei (The Kingkiller
Chronicle) de Patrick Rothfuss as notícias se assemelham a órbita da terra
ao redor do sol, ou seja, sempre o mesmo movimento, o mesmo blá-blá-blá de
sempre: “Agora, O autor está direcionando a sua atenção para a produção de uma
série de TV baseada nos dois primeiros livros da saga e com isso teve de
deixar, temporariamente, a escrita de “As Portas de Pedra”; “Rothfuss não ficou
satisfeito com o que escreveu e está refazendo parte do enredo”; “leitores-beta
da confiança de Rothfuss começaram a ler os originais para opinarem”; e etc e
mais etc. Lembrando que “O Temor do Sábio”, segundo volume da saga, foi lançado
há aproximadamente 13 anos.
Com relação ao relançamento de O Visconde de Bragelonne – publicado originalmente em 1850 e no
Brasil em 1954 e 1963 numa “porrada de volumes”; acho que 13 - as “pedras a
serem garimpadas” são ainda mais escassas porque as informações iniciais de que
a Zahar iria relançar a obra de Alexandre Dumas numa edição luxuosa e com
tradução atualizada, simplesmente se evaporou. Estas informações iniciais
surgiram pouco depois do relançamento de O
Conde de Montecristo, em 2020, numa edição que encheu os olhos dos fãs de
Dumas. Depois disso, as notas sobre o assunto foram ficando cada vez mais
diminutas até desaparecerem.
Comparo esta situação envolvendo O Visconde de Bragelonne e As
Portas de Pedras como algo semelhante ao de aproximar um doce delicioso
perto da boca de uma criança e no momento em que ela for saboreá-lo, você
simplesmente, afasta esse doce e o esconde ou então, joga fora. Olha... cara, é
muita maldade.
E assim, ficamos nós na expectativa, se é que pode
haver uma expectativa, dos lançamentos dos tão aguardados livros de Rothfuss e
Dumas.
Quando eles chegarão? Só Deus sabe.
17 abril 2024
Cinco vinganças terríveis que aconteceram nos livros
Quando o assunto é vingança ou dar o troco em quem te
fez sofrer, sei que é errado não pensar como o imperador romano Marco Antônio
que ficou conhecido pela sua célebre frase: “A melhor vingança é não ser como o
seu inimigo”; mas cá entre nós, se essa premissa fosse usada pela maioria dos
autores de livros, as histórias de vingança seriam uma lástima e com certeza
esses livros ficariam empacados nas estantes das livrarias em todo o mundo.
Cara, vingança na literatura é fazer totalmente o
contrário do que propôs Marco Antônio. E não me diga que você por mais certinho
ou certinha que seja não vibra quando aquele personagem que comeu o pão que o
diabo amassou por culpa de um outro personagem espírito de porco resolve dar o
troco? Claro que vibra!
O tema vingança é um dos mais explorados
pelos autores que escreveram livros que se tornaram campeões de vendas;
verdadeiros Bestsellers.
No post de hoje selecionei cinco histórias de vingança
que ... sei que é errado “dizer” isso; mas que ‘deixaram os leitores muito
felizes’. Vamos conferi-las.
01
– O Pau (Fernanda Young)
A saudosa escritora, roteirista e apresentadora
carioca Fernanda Young que morreu em 2019 após sofrer um ataque de asma,
contemplou os seus leitores com esta obra fantástica lançada em 2009. Em O Pau, Young conta a história de Adriana,
uma bela designer de joias que descobre sinais da traição do namorado, 14 anos
mais novo.
Adriana tem 38 anos e apesar de sua carreira de
sucesso sofre com as inseguranças que atingem boa parte das mulheres de sua
idade. O corpo, embora cuidado com esmero, não tem mais a firmeza encontrada
nas meninas de 20. No rosto, começam a despontar as primeiras marcas de
expressão, e temores como o aumento do grau dos óculos para vista cansada são
uma constante.
As sucessivas decepções amorosas deixaram a personagem
desconfiada e agora mais ainda já que o seu parceiro é muito mais jovem do que
ela. Os dois se entendem muito bem, mas numa noite quando está sozinha na casa
do namorado, ao verificar o celular dele, após emitir o som de recebimento de
mensagens, ela constata a chegada de um SMS sem nome.
Adriana fica hiper-desconfiada e resolve investigar.
Tá. Advinhe o que ela descobre? Que o seu namorado bem mais jovem, e bonitão a
está traindo com uma modelo bem mais jovem do que ela, aliás, muuuuito mais
jovem. A partir daí ela resolve arquitetar a sua vingança, direcionada para
algo que o seu namorado traidor preza muito, aliás algo que não só ele, mas que
os homens prezam muito. Entendeu? Não? Então, é só ler o título do livro. Que vingança. Brrrrrrrr!!!
Editora:
Rocco
Ano:
2009
Capa:
Comum
Páginas:
184
02
– Carrie, A Estranha (Stephen King)
Cara, essa menina é fodástica. No auge da ira de sua
vingança, ela conseguiu destruir, praticamente, uma cidade inteira! Carrie é
uma jovem tímida, perseguida pelos colegas, professores e impedida pela mãe de
levar uma vida comum. No dia de sua formatura, descobre que possui poderes
telecinéticos quando os jovens mais populares da escola a humilham diante de
todos. Então.... Bummmmmm!!! A bomba chamada Carrie explode.
Ambientado principalmente no ano de 1979, o enredo
criado pelo mestre do terror e suspense, Stephen King, gira em torno da
homônima Carrie White, uma garota do ensino médio desajustada, impopular e sem
amigos, intimidada e abusada frequentemente pela sua mãe fanática religiosa,
que depois de ser levada ao limite durante o seu baile de formatura, onde todos
a humilham no palco, na frente de uma multidão, ela resolve usar os seus
poderes telecinéticos recém-descobertos para se vingar daqueles que a
atormentam. Durante o processo, ela causa um dos piores desastres locais que a
cidade já teve. Veja a resenha da obra
aqui.
Livraço! Adorei!
Editora:
Suma
Ano:
2013
Capa:
Comum
Páginas:
200
03
– O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Bronthe)
Emily Brontë estava muito à frente do seu tempo quando
enfim conseguiu publicar O Morro dos
Ventos Uivantes em 1847, um ano antes de sua morte por tuberculose. Ela conseguiu
escandalizar a sociedade com sua obra ao expor e explorar as feridas dos
personagens. A trama gira em torno de uma história de amor cheia de vícios,
obsessões e violência. Uma narrativa que continua até hoje a assombrar o
leitor. Classifico O Morro dos Ventos
Uivantes como uma história de vingança, ódio e amor selvagem.
No início da trama, o patriarca da família Earnshaw
faz uma viagem e, ao retornar a sua fazenda chamada de Morro dos Ventos
Uivantes, traz consigo um pequeno órfão, que todos acham ser um cigano (sua
procedência, contudo, não é revelada em hora alguma da narrativa). O órfão
recebe o nome de Heathcliff. Rapidamente, toda a atenção que o patriarca lhe
demonstra enciuma seu filho legítimo, Hindley, que acha que está perdendo o
carinho do pai. Contudo, Catherine, a irmã de Hindley, se afeiçoa por
Heathcliff.
Quando o Sr. e a Sra. Earnshaw morrem, Hindley sujeita
Heathcliff a várias humilhações. Este é privado da educação e passa a tornar-se
bruto e melancólico. Apesar do amor entre Heathcliff e Catherine, ela decide
casar-se com Edgar Linton, por estar em uma posição de mais prestígio que
Heathcliff. Ele, então, parte do Morro dos Ventos Uivantes e, ao voltar, muito
rico, promete se vingar de todos aqueles que proibiram o seu relacionamento com
Catherine.
Editora:
Clássicos Zahar; Edição comentada
Ano:
2016
Capa:
Dura
Páginas:
376
04
– Jasão e os Argonautas (Menelaos Stephanides)
Considero a vingança de Medéia uma das mais terríveis
da literatura. Ela, certamente, foi além. Viche!
O mito de Jasão e os Argonautas ocupa um lugar muito
importante na mitologia grega. Ele relata a expedição heroica que cruzou pela
primeira vez mares e terras desconhecidas repletas de perigo, em busca do velo
de ouro, um tesouro a que se atribuía o poder de trazer prosperidade e riqueza
a quem possuísse. O livro do escritor
grego Menelaos Stephanides não só nos leva a conhecer essa jornada heroica com
também a vingança de Medéia que trata sobre o amor e o ódio e também as suas
consequências.
Ela foi uma das personagens mais trágicas da Mitologia
Grega; filha do rei Eetes, de Cólquita. Medéia era muito cortejada por diversos
pretendentes, devido a sua inteligência, beleza e astúcia.
Um dia, Jasão – o líder dos argonautas - chega a essa região
da Cólquita em busca do Velocino de Ouro que era guardado por um terrível
dragão. Após ter se apaixonado perdidamente por Jasão, a feiticeira Medeia
resolve trair o próprio pai e também o seu povo. Dessa maneira, ela ajuda Jasão
a roubar o Velocino de Ouro e em seguida foge com o seu amado. O que ela não
esperava receber como pagamento por seu sacrifício era a traição de Jasão. E isso,
de fato, aconteceu.
Bem... resultado: Jasão sofreu as consequências. Uma
vingança tão terrível que acabou sobrando para a própria Medéia.
Editora:
Odysseus
Ano:
2004
Capa:
Comum
Páginas:
170
05
– O Conde de Monte Cristo (Alexandre Dumas)
O Conde de Monte Cristo é uma das obras de maior sucesso de
Alexandre Dumas, o escritor dos famosos livros Os Três Mosqueteiros e O
homem da Máscara de Ferro.
O enredo da história de Dumas se passa na França sob
período de Napoleão Bonaparte, que estava exilado na Ilha de Elba. Naquela
época havia um grande receio de seu retorno. Segundo a história, o imperador se
comunicava com seus correligionários através de cartas. Uma dessas cartas foi
enviada em segredo para um partidário de Bonaparte através de Edmond Dantès,
que desconhecia o conteúdo da carta que trazia consigo.
Então, o seu melhor amigo, Fernand Mondego, que por
sua vez era apaixonado pela noiva de Dantes, resolve arquitetar a sua vingança
juntamente com Danglars e o Juiz Villefort, no intuito de colocar seu amigo
como traidor da pátria atrás das grades. Dantes acaba sendo acusado
injustamente e enviado para o Castelo de If, uma prisão isolada no meio do
mar na qual o prisioneiro passou anos e anos encarcerado.
Ao fim de muitos anos solitários na sua cela, Dantès
conhece o pitoresco e fascinante abade Faria, um colega prisioneiro. Dantès e o
abade tornam-se grandes amigos e o primeiro recebe do segundo as preciosas
indicações para alcançar um fabuloso tesouro que está escondido num ilha. A
morte do abade permite a Dantès evadir-se com êxito da prisão e encontrar o
tesouro. Adotando a personalidade fictícia do Conde de Monte Cristo, Dantès,
com perversa precisão dá início a sua devastadora vingança contra todos aqueles
que o fizeram passar 14 longos anos na prisão.
Taí, se você aprecia um bom enredo envolvendo
vinganças de personagens, acredito que irão apreciar essas cinco obras.
Boa leitura!
13 abril 2024
Caminho inverso: os filmes que viraram livros
Os leitores que acompanham o blog desde os seus
primórdios, em 2011, sabem que não sou fã de novelizações de filmes. Como
posso explicar essa aversão... bem, acho que tudo se resume na perda da magia.
Isso mesmo: quando você vê um filme e sai do cinema extasiado com que acabou de
assistir, você viveu a magia de um enredo espetacular e de personagens
carismáticos. Mas quando algum escritor resolve adaptar um filme para as
páginas, você que já assistiu esse filme também já viveu essa magia, por isso
não há motivo de ler tudo o que você já viu nas telas. Sei lá, fica estranho.
Mas, você pode argumentar que o mesmo ocorre ao
inverso, quando um livro é adaptado para as telonas. Neste caso, é diferente;
pelo menos para mim. Quando uma obra literária vira um filme ou série de TV, eu
fico imaginando com seria ver em “carne e osso” o personagem que eu conheci
apenas nas páginas. Ver esse lado irreal - idealizado apenas por mim -transformado
em algo real é viciante. O mesmo vale para o enredo da história; ver as imagens
nas telonas de situações e locais que eu apenas imaginei nas páginas. Não sei
se consegui explicar de uma maneira clara, mas, enfim, é isso.
Mas, por outro lado, conheço leitores que adoram
novelizações. Alguns, até preferem essas novelizações aos filmes. Portanto,
esse post é dedicado principalmente para esses leitores-cinéfilos.
Uma curiosidade interessante é que as novelizações de
filmes já acontecem há muito tempo. Este método teve origem nos idos de 1920.
Verdade! Mas o processo se tornou popular somente na década de 1970, antes do
lançamento dos videocassetes. Esta era a única forma das pessoas terem contato
com o filme que por algum motivo deixaram de assistir.
Nesta postagem selecionei seis novelizações de filmes
famosos e de grande sucesso nos cinemas. Os filmes são fantásticos, quanto as
novelizações deixo para aqueles que apreciam o gênero julgarem. Vamos a elas.
01
– O Segredo do abismo (Orson Scott Card)
O Segredo do Abismo é uma das poucas, acho que... a única
novelização que gostei, na realidade amei. Após ler o livro, passei horas e
horas pesquisando na Internet detalhes sobre o trabalho de Orson Scott Card e
então entendi o porquê de ter gostado tanto do livro. O primeiro ponto que
considerei decisivo para o êxito da obra foi a declarada aversão que Orson
Socott Card tem as novelizações. Êpa! Mas espera aí? O sujeito tem aversão por
esse tipo de trabalho, mas acaba fazendo algo semelhante?!
Ok. Vou tentar explicar. Card relutou muito em aceitar
escrever a novelização do blockbuster O Segredo do Abismo lançado nos cinemas
em 1989. James Cameron, o diretor do filme, teve de intervir pessoalmente nas
negociações e chegou a manter vários encontros com o escritor na esperança de
convencê-lo a mudar de ideia, mas ele estava irredutível: “novelização jamais”,
dizia o escritor.
Acontece que o diretor James Cameron queria uma
novelização de seu filme de qualquer jeito e não abria mão de Scott Card para
escrevê-la. Seria ele ou ele. O respeito e a simpatia de Cameron pelo trabalho
do escritor de ficção científica norte-americano surgiu depois que ele leu O Jogo do Exterminador e Orador dos Mortos, diga-se de passagem,
duas obras primas da literatura de ficção científica. Depois disso, o conhecido
diretor de Hollywood se tornou um fã confesso de Scott Card.
Scott Card só aceitou escrever o livro do filme depois
que várias de suas exigências foram aceitas. A primeira delas: que ele tivesse
liberdade total para desenvolver a "novelização" da maneira que achasse
melhor. E diga-se que esse “da maneira que achasse melhor” significava mudar
destino de personagens, acrescentar detalhes extras no final da história, além
de incluir fatos e explicações impossíveis apresentar no filme. E pediu mais!
Ter acesso irrestrito as filmagens enquanto escrevia o livro. Isto deixou
evidente que Scott Card exigiu escrever o livro ao mesmo tempo em que o filme
“O Segredo do Abismo” era rodado, porque só assim livro e filme seriam lançados
juntos. Enfim, para aceitar escrever um livro sobre um filme, o escritor fez um
“caminhão” de exigências. E todas elas foram aceitas por James Cameron e também
pelos produtores da 20th Century Fox.. Pronto! Está explicado porque a
novelização de “O Segredo do Abismo” se transformou num verdadeiro sucesso de
crítica e leitores.
Filme e livro contam a história de uma equipe de
mergulhadores que trabalham numa plataforma civil de exploração de petróleo. De
repente, eles se vêem envolvidos em uma missão de resgate do submarino nuclear
Montana que afundou misteriosamente com 156 tripulantes e, após o ocorrido, não
houve mais contato.
02
– Labirinto do Fauno (Guillermo del Toro)
Lançado a cerca de 17 anos, O Labirinto do Fauno
talvez seja uma das obras mais amadas do diretor Guillermo Del Toro. O filme que
agradou público e crítica se passa na Espanha de 1944. Oficialmente a Guerra
Civil já terminou, mas um grupo de rebeldes ainda luta nas montanhas ao norte
de Navarra. Uma criança de 10 anos chamada Ofélia muda-se para a região com sua
mãe. Lá as espera seu novo padrasto, um oficial fascista que luta para
exterminar os guerrilheiros da localidade. Solitária, a menina logo descobre a
amizade de Mercedes, jovem cozinheira da casa, que serve de contato secreto dos
rebeldes.
Certa noite, em seus passeios pelo jardim da imensa
mansão em que moram, Ofelia descobre as ruínas de um labirinto onde se encontra
com um fauno, uma estranha criatura que lhe faz uma incrível revelação: ela é
uma princesa, a última de sua estirpe, aquela que todos passaram muito tempo esperando.
Para poder regressar a seu mágico reino, a garota deverá passar por três provas
antes da lua cheia.
Simultaneamente ao filme, a Intrínseca lançou em
terras brasileiras a sua novelização contendo ilustrações e contos originais. Para
transpor os detalhes das telonas para as páginas, Guillermo Del Toro não esteve
sozinho. Ele chamou e juntou-se com a escritora de livros fantásticos Cornelia
Funke. Ela é mais conhecida pelo seu trabalho na trilogia Mundo de Tinta, na qual contém Coração
de Tinta, Sangue de Tinta e Morte de Tinta. Os dois optaram por não
fugir da narrativa reconhecida e já clássica para alguns, contudo adicionaram
novos pontos a essa trajetória, além de expandir o mundo com contos.
03
– Era uma vez em Hollywood (Quentin Tarantino)
Acredito não passou pela cabeça das muitas pessoas que
assistiram “Era Uma Vez em Hollywwod” que o diretor Quentin Tarantino também
iria se aventurar nos “mares” da literatura, ainda mais... lançando um romance
do seu filme. E, de fato, isso aconteceu.
O livro, publicado no Brasil pela Intrínseca em 2021 –
dois anos depois do filme – explora as facetas inéditas dos personagens Rick
Dalton (Leonardo DiCaprio) e Cliff Booth (Brad Pitt) e a trajetória desses
personagens no universo dos spaghetti westerns.
Em sua novelização, o diretor e agora romancista
bagunça a linha temporal do filme, dando mais tonalidades aos personagens e
expandindo sua sacada de revisar a morte de Sharon Tate pela seita de Charles
Manson.
Lançado em 2019, a produção cinematográfica arrecadou
mais de US$ 370 milhões nas bilheterias ao redor do mundo e venceu dois Oscar
(melhor ator coadjuvante para Pitt e melhor direção de arte) a partir de 10
indicações.
04
– A Forma da Água (Guillermo del Toro e Daniel Kraus)
A Forma da Água tem uma premissa semelhante ao
“Segredo do Abismo”: Nos dois casos, filme e livro foram criados
simultaneamente, não se tratando, portanto, de uma simples novelização. Dessa
maneira, ambos apresentam diferenças entre si. Por isso mesmo, vale muito a
pena assistir ao filme e também ler o livro para analisar essas nuances.
No enredo, um oficial do governo dos Estados Unidos
chamado Richard Strickland é enviado à Amazônia para capturar um ser mítico e
misterioso cujos poderes inimagináveis seriam utilizados para aumentar a potência
militar do país, em plena Guerra Fria. Dezessete meses depois, o homem enfim
retorna à pátria, levando consigo o deus Brânquia, o deus de guelras, um
homem-peixe que representa para Strickland a selvageria, a insipidez, o calor ―
o homem que ele próprio se tornou, e quem detesta ser.
Para Elisa Esposito, uma das faxineiras do centro de
pesquisas para o qual o deus Brânquia é levado, a criatura representa a
esperança, a salvação para sua vida sem graça cercada de silêncio e
invisibilidade. Richard e Elisa travam uma batalha tácita e perigosa. Enquanto
para um o homem-peixe é só objeto a ser dissecado, subjugado e exterminado,
para a outra ele é um amigo, um companheiro que a escuta quando ninguém mais o faz,
alguém cuja existência deve ser preservada.
A narrativa literária revela ao leitor as
particularidades de personagens que não são apresentadas de forma detalhada no
filme intensos. Há vários pontos de vistas de personagens diferentes. Os
leitores acompanham o percurso de todos esses pontos de vistas se desenrolarem
e se entrelaçarem em algum momento da trama e também compreender as suas
motivações. A produção cinematográfica de 2017 levou quatro estatuetas, incluindo
Melhor Filme e Diretor (Guillhermo del Toro).
05
– Instinto Selvagem (Richard Osborne)
Você quer ler um filme? Isso mesmo: ler e não
assistir. Se quiser é só comprar o livro Instinto
Selvagem. A novelização de Richard Osborne é uma cópia fiel do roteiro de
Joe Eszterhas. Não muda absolutamente nada. Quando li o livro, a impressão que
tive foi a de que estava assistindo ao filme através das páginas, sem nenhuma
mudança. Até cruzada de pernas fatal da personagem vivida por Sharon Stone está
nas páginas do romance.
Para aqueles que não se lembram do filme; no enredo,
Sharon Stone vive Catherine Tramell, uma sensualíssima escritora de livros de
mistério, suspeita de matar um famoso cantor de rock. Além de ser amante da
vítima, seu assassinato é idêntico a um crime que ela descreve em um de seus livros.
O policial encarregado do caso é Nick Curran (Michael Douglas), que não resiste
à beleza e ao poder de manipulação da moça e acaba se envolvendo com ela.
Porém, mortes continuam a acontecer e tudo indica que Nick será a próxima
vítima. Mas ele está atraído demais por Catherine para se manter longe dela.
Apesar da crítica negativa, “Instinto Selvagem” (Basic
Instinct) tornou-se um dos filmes de maior sucesso financeiro dos anos 90,
arrecadando US$352 milhões em todo o mundo. Quanto ao livro, por ser um simples
copião do filme passou despercebido.
06
– Interestelar (Christopher Nolan, Jonathan Nolan e Greg Keyes)
Além de Instinto
Selvagem, quer outro exemplo de novelização que adaptou ao pé da letra o
roteiro de um filme? Anote aí: Interestelar
de Christopher Nolan que fez um grande sucesso nos cinemas em 2014.
São 268 páginas de puro filme. A obra literária
escrita a três mãos pelo diretor Christopher Nolan, seu irmão Jonathan Nolan e
o autor Greg Keyes foi publicado há quase dois anos depois do filme.
Para quem não assistiu a produção nos cinemas (e, por
consequência, perdeu um show visual), Interstellar acompanha a história de
Cooper, um ex-piloto da NASA que é convocado em uma missão espacial secreta
para encontrar outros planetas para perpetuar a vida humana. Com a Terra no
limite de sua reserva natural, uma saída precisa ser encontrada.
Acontece que essa missão, graças a relatividade do
tempo, pode significar décadas no espaço, sem que os astronautas vejam suas
famílias. Enquanto Cooper atravessa o espaço e procura buracos de minhoca para
fazer a travessia para outras galáxias com sua equipe, sua filha mais nova,
Murph, cresce e também se envolve com a NASA para encontrar uma forma de ajudar
a salvar a população.
Taí galera, dúvida cruel não é mesmo? Filme ou
novelização? No meu caso, eu ainda prefiro o caminho inverso, ou seja, livros
que viraram filme e não filmes que viraram livros.
Inté!